
A indústria de tecnologia foi construída sobre uma base sólida e previsível: o software determinístico. Em um sistema clássico, cada ação do usuário (input x) gera um resultado esperado (output y). Clicar em “enviar” manda a mensagem; clicar em “comprar” finaliza o pedido. Métricas como SLOs (Service Level Objectives) e funis de conversão foram criadas para otimizar a confiabilidade e a eficiência desse mapeamento.
No entanto, a ascensão da Inteligência Artificial generativa está quebrando esse paradigma. Estamos entrando no que o brilhante ensaio “Building AI Products in the Probabilistic Era“, de Gian Segato, define como a “Era Probabilística”. Este artigo é uma análise e expansão das ideias de Segato, aplicando-as ao nosso contexto na vanguarda da tecnologia jurídica.
A principal mudança que a IA traz é a transformação de funções F(x) → y para F'(?). O que isso significa?
Essa nova realidade torna os antigos manuais obsoletos. Tentar forçar um modelo de IA a ter 100% de confiabilidade, como em um software tradicional, significa “nerfar” sua capacidade, limitando sua inteligência e flexibilidade. O objetivo não é mais a perfeição, mas o gerenciamento da incerteza.
Construir produtos na era probabilística exige uma mudança de mentalidade: da engenharia para o empirismo.
Esses modelos não são “projetados” no sentido clássico; eles são descobertos. Suas capacidades emergem do treinamento em grandes volumes de dados e nem mesmo seus criadores conseguem prever todos os seus comportamentos.
Se o comportamento do produto é incerto e emergente, como medimos o sucesso? A resposta, como aponta Segato, está nos dados — mas não da forma como estamos acostumados.
Os funis de conversão tradicionais perdem o sentido. Um usuário não está mais seguindo um caminho pré-definido. Em vez disso, ele está explorando um campo de possibilidades, compondo “trajetórias”. A análise precisa mudar de foco:
Na ProcStudio e ProcStudio IA, vivemos essa transição diariamente. A criação de um documento jurídico ou a análise de um processo não é uma função determinística com uma única resposta correta. É uma tarefa que exige nuance, interpretação e adaptação ao contexto.
Atualmente temos as duas abordagens na geração de documentos. Uma estruturada e seguindo padrões de templates substituíveis pelas variáveis do usuário e outra totalmente livre para permitir a criação pela Inteligência Artificial.
Nossa missão de democratizar o acesso ao conhecimento jurídico no Brasil e nos Estados Unidos seria impossível no paradigma antigo. As ferramentas que desenvolvemos são projetadas para navegar na complexidade probabilística:
A era probabilística não é apenas um hype tecnológico. É uma mudança fundamental na ontologia do software. Empresas que abraçarem a incerteza, adotarem uma abordagem científica e usarem dados para mapear trajetórias complexas irão definir a próxima década. Aquelas que tentarem encaixar funções de onda em planilhas determinísticas ficarão para trás, questionando por que seus painéis não capturam mais a magia de seus produtos.
Bem-vindo à Era Probabilística.
Bruno Pellizzetti, CEO da ProcStduio e ProcStudio IA, é um advogado previdenciário com mais de 15 anos de experiência no mundo jurídico e nos últimos anos tem se especializado em tecnologia e inteligência artificial. O responsável para implantação de soluções tecnológicas em processos jurídicos nas empresas com o objetivo de democratizar o acesso ao conhecimento jurídico para todos e aumentar a eficiência e precisão das equipes jurídicas.