LLM Inflation

A Nova Obsolescência Programada: Quando Você Compra Mas Não Possui

Em 1993, quando Demolition Man chegou aos cinemas, parecia pura ficção científica: um mundo futuro onde tudo é controlado, monitorado e “melhorado” pela tecnologia. John Spartan (Sylvester Stallone) é descongelado em 2032 e descobre uma sociedade onde tudo era centrado no “próprio bem” da pessoa:

  • Sal foi proibido.
  • Sexo físico foi substituído por dispositivos virtuais.
  • Carros dirigem sozinhos e você não pode controlá-los manualmente.

Existem muitos e muitos filmes com a mesma narrativa, mas o que me fez lembrar do Demolition man foi uma reclamação de um consumidor que ficou trancado para fora da vida digital do seu veículo, ou seja, o software parou de ser atualizado e ele ficou completamente sem reação e sem controle sobre o que fazer.

Tudo é muito bonito com painéis e conectividade, mas por trás de todo o dispositivo e toda a tecnologia, é necessário muito esforço para manter aquilo funcionando e as empresas não vão se importar em encerrar um serviço se determinada linha já não for mais lucrativa.

Então será que realmente vale a pena essa excessiva conectividade que vai da sua máquina de lavar até o seu carro? Até que ponto temos acesso e controle a esses dispositivos e até que ponto estamos ficando trancados (LockOut) do acesso aos nosso próprios dispositivos?

A cena final do Filme em que o personagem tem acesso a um “carro primitivo” que ele pode, de fato, controlar é impagável.

O Problema da Conectividade Forçada

Em 2025, compramos carros que custam mais de R$ 200 mil, mas não os possuímos completamente. A conectividade deixou de ser opcional para se tornar uma dependência crítica - e uma fonte de receita recorrente para as montadoras.

A realidade atual:

  • Funcionalidades básicas dependem de subscrições mensais.
  • Sem internet, sistemas essenciais param de funcionar.
  • Atualizações podem ser desligadas remotamente.
  • Você paga pelo produto, mas continua pagando para usá-lo: Você não é o dono de fato.

Da Obsolescência Física à Digital

A Evolução do Controle

A obsolescência programada tradicional forçava a troca de produtos através da degradação física. A versão digital é mais sofisticada: mantém o hardware funcionando, mas torna o software inacessível.

Obsolescência 1.0 (Século XX):

  • Lâmpadas com vida útil reduzida artificialmente.
  • Peças que quebram após prazo determinado.
  • Objetivo: forçar recompra.

Obsolescência 2.0 (Século XXI):

  • Funcionalidades bloqueadas por software.
  • Dependência de servidores remotos.
  • Objetivo: transformar proprietários em assinantes.

Dependência Sistemática

  • Conectividade obrigatória: “parte importante de todos os veículos”
  • Subscrições para funcionalidades básicas: aquecimento de bancos, piloto automático
  • Controle remoto: empresa pode desabilitar recursos à distância

Transformação de Proprietário em Usuário

  • Você compra o carro por R$ 300 mil
  • Paga R$ 500/mês para usar funcionalidades que já pagou
  • Perde acesso a recursos se parar de pagar
  • Empresa controla quando e como você usa seu “próprio” veículo

Tecnologia como LockOut

A tecnologia é utilizada como forma de deixar você fora do sistema, sendo impedido de fazer a manutenção dos seus próprios dispositivos ou mesmo modificações.

A Fragilidade da Dependência Digital

Cenários Reais de Falha

Perda de conectividade:

  • Carros elétricos que não carregam sem acesso aos servidores
  • Funcionalidades pagas ficam inacessíveis
  • Diagnósticos dependem de autorização remota

Controle corporativo:

  • Empresas podem desabilitar remotamente qualquer função
  • Atualizações forçadas podem remover recursos
  • Dados pessoais de localização constantemente coletados

Teoria da conspiração?

Pouco antes de terminar esse post saiu uma notícia em que a Hyundai quer que os clientes paguem para atualizar o sistema de segurança do carro elétrico Ioniq 5.

O que pode ser feito?

Está cada dia mais difícil ser um consumidor em um mundo totalmente dominado por grandes corporações que empurram as suas decisões goela abaixo das pessoas. Mas a organização da sociedade civil de consumo é fundamental para termos liberdade de escolha.

O primeiro passo, é esse, ler, entender e se conscientizar sobre as nossas escolhas de consumo. Não aceite a premissa da subscrição, quanto mais livre você estiver melhor, não aceite o discurso imposto pelo marketing especialmente a que deseja deixar subentendido que a propriedade privada não tem valor, e sim o uso dos produtos (um argumento de marketing que vem sendo impregnado na nossa cultura nos últimos anos).

  1. Rejeite taxas mensais sobre seus dispositivos.
  2. Valorize propriedade.
  3. Questione toda “conveniência” que remove autonomia.
  4. Lembre-se dos custos de manutenção do hardware e do software.