
Um estudo recente da Universidade de Stanford analisou dados de mais de 25 milhões de trabalhadores americanos e revelou uma tendência clara: a inteligência artificial está afetando o mercado de trabalho de forma desigual. Profissionais juniores em ocupações expostas à IA experimentam declínios de 13% em empregos, enquanto profissionais seniores nas mesmas funções apresentam crescimento de 6% a 9%.
Para o setor jurídico brasileiro, com 1,2 milhão de advogados registrados gerenciando 80 milhões de processos pendentes, essas descobertas indicam mudanças estruturais que já estão em andamento.
O estudo de Stanford, liderado pelo economista Erik Brynjolfsson, analisou 54 meses de dados de folha de pagamento fornecidos pela ADP, uma das maiores processadoras de folha de pagamento dos Estados Unidos. A principal descoberta foi a disparidade geracional no impacto da IA.
Trabalhadores de 22 a 25 anos em ocupações com alta exposição à IA experimentaram um declínio de 13% no emprego desde o lançamento do ChatGPT em novembro de 2022. No mesmo período, trabalhadores mais velhos nas mesmas funções apresentaram crescimento. Entre desenvolvedores de software dessa faixa etária, as reduções chegaram a 20% até julho de 2025.
A explicação está na natureza do conhecimento profissional. A IA replica eficientemente o “conhecimento codificado” - conteúdo formal de educação que recém-formados possuem. O “conhecimento tácito”, desenvolvido através de anos de prática e interação com clientes, permanece difícil de automatizar.
Para escritórios de advocacia brasileiros, isso significa repensar o papel dos advogados juniores. Tarefas como revisão inicial de documentos, pesquisa jurisprudencial básica e elaboração de minutas padrão estão sendo automatizadas. Mas isso não significa obsolescência profissional.
O Brasil apresenta características que tornam a transformação digital particularmente relevante. Empresas brasileiras gastam 23 bilhões de euros anualmente em litígios, enquanto o sistema judiciário custa 15 bilhões de euros (1,5% do PIB). A Ordem dos Advogados do Brasil já aprovou diretrizes éticas para uso de IA, criando um framework regulatório para inovação responsável.
A AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs) cresceu 300% em dois anos. Buscas por “inteligência artificial advocacia” e “automação jurídica IA” apresentam volumes consistentemente altos no Google Trends brasileiro, indicando interesse profissional em soluções tecnológicas.
O Plano Brasileiro de IA 2024-2028 alocou R$ 23 bilhões para desenvolvimento de inteligência artificial. Diferentemente dos Estados Unidos, onde a adoção já está madura, o Brasil está em momento onde early adopters (os primeiros a adotar essas tecnologias) - ‘termo descrito no livro A Vaca Roxa, onde fala sobre uma parcela da população que aproveita precocemente um produto ou serviço’, podendo estabelecer vantagens competitivas.
A distinção entre automação e augmentação é fundamental. Onde a IA apenas automatiza trabalho rotineiro, empregos declinam. Onde a IA aumenta capacidades dos advogados - assistência em pesquisa, aprimoramento de peças, análise preditiva - o emprego permanece estável ou cresce.
Nos Estados Unidos, a adoção individual de IA por profissionais jurídicos passou de 19% em 2023 para 79% em 2024. A adoção em nível de escritório permanece em 21%, com grandes bancas mostrando 39% versus 20% em escritórios menores. Essa lacuna representa oportunidade.
Para escritórios brasileiros, a estratégia eficaz envolve três elementos:
Desde o início eu tenho falado que a IA vai acabar com a mediocridade. Na verdade precisaríamos repensar todo o sistema de ensino e não só a faculdade de direito.
A maioria das ferramentas globais de IA jurídica são otimizadas para inglês e common law. Isso cria oportunidade para soluções especializadas para o Brasil que compreendam o nosso sistema jurídico, terminologia do direito civil e complexidade regulatória local.
Soluções como ProcStudio e ProcStudio IA, desenvolvidas especificamente para o mercado brasileiro, oferecem integração com sistemas locais como e compreensão das especificidades processuais brasileiras - valor que ferramentas globais não conseguem replicar.
Termos emergentes como “jurimetria IA” e “análise preditiva jurídica” ganham tração entre profissionais brasileiros, indicando sofisticação crescente na aplicação de IA além da simples automação documental.
Com base no estudo de Stanford e na realidade brasileira, escritórios devem considerar as seguintes ações:
Sua experiência importa: Como você vê o impacto da IA em sua prática jurídica? Que desafios e oportunidades identifica para advogados juniores em seu escritório? Compartilhe sua perspectiva nos comentários - sua contribuição enriquece esta discussão fundamental para o futuro da advocacia brasileira.
Estudo Original:
Fontes Principais:
Bruno Pellizzetti, CEO da ProcStudio e ProcStudio IA, é advogado com mais de 15 anos de experiência no mundo jurídico e, nos últimos anos, tem se especializado em tecnologia e inteligência artificial. É responsável pela implantação de soluções tecnológicas em processos jurídicos, com o objetivo de democratizar o acesso ao conhecimento jurídico e aumentar a eficiência das equipes jurídicas.