
A corrida pela implementação de inteligência artificial em todos os setores da economia gera tanto histórias de sucesso quanto lições valiosas. Uma notícia recente, que deve ser detalhada em reportagem do The Wall Street Journal nos próximos dias, joga luz sobre os desafios práticos da inovação em larga escala: a gigante do fast-food Taco Bell está reavaliando sua ambiciosa iniciativa de usar IA por voz para anotar pedidos em seus drive-thrus.
O caso serve como um alerta fundamental para qualquer empresa, seja no varejo ou no setor jurídico, que busca integrar soluções de IA em seus processos: a tecnologia, por mais avançada que seja, precisa ser robusta o suficiente para enfrentar o complexo e muitas vezes imprevisível ambiente do mundo real.
Com grande confiança no potencial da tecnologia, a Taco Bell implementou sistemas de pedidos operados por IA por voz em mais de 500 de suas unidades. O objetivo era nobre: otimizar o atendimento, reduzir erros e agilizar um dos processos mais críticos para o modelo de negócio de fast-food.
A premissa era que a IA já havia evoluído o suficiente para compreender padrões de fala, sotaques regionais e a estrutura de um pedido. A escala do lançamento sugeria uma fé inabalável na maturidade da tecnologia para um dos maiores desafios da interação humana: pedir comida com fome e com pressa.
Conforme apurado pela jornalista Isabelle Bousquette para o The Wall Street Journal, a realidade se mostrou mais complexa. Os sistemas de IA enfrentaram o que pode ser descrito como uma “tempestade perfeita”:
Me lembra daquele experimento do robô que estava andando pelos Estados Unidos e foi destruído em 2015
Este cenário demonstra que a interação humana não é apenas transacional; ela envolve nuances, humor e imprevisibilidade que os modelos de linguagem, quando aplicados a tarefas tão específicas, ainda lutam para dominar.
Diante dos desafios, a Taco Bell anunciou que está “reavaliando” a implementação, considerando a necessidade de “intervenção humana em períodos de pico”. Em linguagem corporativa, isso é um reconhecimento de que a solução tecnológica não foi capaz de lidar com a complexidade e o volume do mundo real, especialmente em horários de alta demanda.
Para nós, que trabalhamos com a aplicação de IA em ambientes complexos como o jurídico, a lição é clara. Assim como um pedido de taco pode ter variáveis infinitas, um documento ou processo legal também possui um nível de complexidade que não pode ser subestimado.
A falha do Taco Bell não está na tecnologia em si, mas na superestimação de sua prontidão para um ambiente caótico e na subestimação da variável humana. Isso nos lembra que:
Curiosamente, mesmo com o revés, a Taco Bell afirma que a IA por voz continua sendo parte crítica de seu roteiro de produtos. Isso mostra que, apesar da falha na execução inicial, a empresa ainda acredita no potencial estratégico da tecnologia, provando que a resiliência e a capacidade de aprender com os erros são tão importantes quanto a inovação em si.
Se a IA tropeça até em um pedido de taco, me conta nos cometários como você enxerga sua aplicação em setores mais complexos, como o jurídico?
Bruno Pellizzetti, CEO da ProcStudio e ProcStudio IA, é um advogado previdenciário com mais de 15 anos de experiência no mundo jurídico e nos últimos anos tem se especializado em tecnologia e inteligência artificial. O responsável para implantação de soluções tecnológicas em processos jurídicos nas empresas com o objetivo de democratizar o acesso ao conhecimento jurídico para todos e aumentar a eficiência e precisão das equipes jurídicas.
Este artigo é uma análise baseada na reportagem de Isabelle Bousquette para o The Wall Street Journal e na informação publicada pelo AI Darwin Awards, que pode ser encontrada no link a seguir.