Encontrando Equilíbrio Entre Contexto Humano e Inteligência Artificial no Direito

Hoje, mais do que nunca, a prática jurídica está passando por uma transformação estimulada pela inteligência artificial (IA). Com o surgimento de ferramentas como ChatGPT, Claude e outras soluções de IA para análise jurídica, advogados enfrentam um desafio fundamental: equilibrar o contexto humano e o suporte oferecido pela IA em diferentes níveis de complexidade legal. Inspirado nas reflexões de Doug Turnbull sobre programação e IA, podemos traçar paralelos importantes para o mundo jurídico.

A Decisão Crítica: Contexto Humano vs Contexto de IA no Direito

A atuação jurídica com IA é uma habilidade estratégica que requer uma reflexão cuidadosa. Em vez de apenas executar tarefas, o profissional do direito moderno precisa decidir onde é mais produtivo investir atenção humana e onde confiar no trabalho da IA.

Propomos uma abordagem baseada em camadas de interação, que vai desde o contexto totalmente dominado pelo humano até contextos amplamente delegados à inteligência artificial. Essa estrutura ajuda a identificar quando é necessário manter controle total e quando é possível deixar a IA gerar análises por conta própria.

O advogado deve decidir, dependendo da situação, quando o contexto jurídico é importante para entender profundamente ou quando pode confiar na IA para lidar com aspectos mais mecânicos do trabalho.

As Camadas de Conteúdo: Do Humano à IA no Contexto Jurídico

Podemos descrever quatro principais camadas para interação entre humanos e inteligência artificial no processo jurídico. Cada camada representa um nível de imersão de contexto humano necessário:

  1. Diálogo com LLM - ChatGPT/Claude (Contexto mais humano)

Neste nível, o profissional do direito reformula o problema jurídico de forma estruturada, como se estivesse consultando um colega em uma outra banca ou participando de um diálogo socrático. A IA funciona como uma ferramenta para reflexões de alto nível sobre princípios jurídicos, doutrinas e jurisprudência.

Formular boas perguntas para a IA é uma habilidade valiosa, pois exige uma compreensão aprofundada do problema jurídico. Este nível é ideal para cenários onde o objetivo é clareza de ideias ou obtenção de uma nova perspectiva sobre interpretações legais complexas.

No final do processo o operador irá realizar sua consulta e determinar as alterações necessárias em sua peça jurídica:

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  1. IA Jurídica Contextual: Consultas Diretas no Contexto do Caso

Nesta camada, a IA já entende o ambiente do caso jurídico e responde perguntas diretas relacionadas aos autos. Por exemplo, você pode perguntar sobre como estruturar determinado argumento em uma petição de acordo com uma jurisprudência desfavorável que você encontrou nas suas próprias pesquisas

Esse nível é como perguntar a um colega que já tem contexto do processo, mas que pode não fornecer uma visão fundamental de todos os princípios envolvidos. É ideal para situações em que a prioridade é eficiência sobre aprofundamento teórico completo.

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  1. Alterações automáticas

Aqui a IA não apenas responde perguntas, mas altera diretamente em documentos jurídicos de forma automática esse processo é feito programaticamente com sistemas pré definidos e automações.

O advogado passará a ter o papel de revisor para adicionar elementos próprios de escrita e revisar inconsistências, como se fosse um advogado sênior revisando um trabalho do júnior.

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Deixar a revisão humana de lado seria uma atividade irresponsável, então eu não criei uma categoria específica para essa interação. Entendo que ainda não chegamos neste nível de maturidade das ferramentas:

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  1. Guardrails - Rede de Segurança

Nesta camada, a IA é tratada como um assistente encarregado de ser um “guardrails” para evitar problemas nas peças jurídicas.

Pense nesta etapa atua como uma rede de segurança, o termo “guardrails” é um termo que vem do inglês e significa literalmente “grades de proteção” ou “barreiras de segurança” - como aquelas encontradas nas laterais de estradas para evitar que veículos saiam da pista.

Para mim talvez esse seja uma das principais funções da IA, como por exemplo conferir se todos os elementos da petição inicial foram contestados. Ou se os pedidos realmente correspondem aos fundamentos expostos na petição inicial por exemplo, o que pode evitar erros graves por um custo muito baixo e manter o ser humano como protagonista.

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O Papel da Confiança no Trabalho Jurídico com IA

Em cada camada é preciso equilibrar o quanto confiar na IA com o quanto o profissional do direito deseja manter o controle sobre o contexto. Essa interação pode ser comparada à gestão de um escritório de advocacia: algumas decisões exigem atenção total do sócio, enquanto outras podem ser delegadas a associados sem impacto crítico.

O processo de decidir entre “quanto do contexto jurídico você processa pessoalmente” versus “quando confiar na IA” é essencial para maximizar produtividade e aprofundamento jurídico a longo prazo.

Conclusão

O uso da inteligência artificial está transformando a prática jurídica, mas isso não significa que os humanos estão fora da equação. A chave está no equilíbrio e no entendimento do contexto: saber quando se envolver profundamente e quando delegar para a IA.

O advogado que dominar esta nova forma de trabalhar terá vantagens competitivas significativas, combinando a eficiência da IA com o discernimento humano que só décadas de experiência jurídica podem proporcionar.