IA nas entrevistas de emprego

Inteligência Artificial nas Entrevistas de Emprego: Por que Candidatos Estão Rejeitando Robôs Entrevistadores?

A Nova Fronteira do Recrutamento que Está Gerando Polêmica

No atual mercado de trabalho, uma nova tendência está causando controvérsia: entrevistas de emprego conduzidas por inteligência artificial. Segundo reportagem recente da Fortune, candidatos estão preferindo permanecer desempregados a participar de processos seletivos automatizados, considerando a experiência “desumana” e um sinal de alerta sobre a cultura da empresa.

A Resistência dos Candidatos

Debra Borchardt, uma escritora e editora experiente que busca emprego há três meses, relatou a Fortune que

“procurar emprego atualmente já é tão desmoralizante e desgastante, que se submeter a essa indignidade adicional é um passo longe demais”.

Ela abandonou uma entrevista com IA em menos de 10 minutos, frustrada com a impessoalidade do processo.

Alex Cobb, profissional que atualmente trabalha na empresa de energia britânica Murphy Group, também encontrou entrevistadores de IA durante sua busca por emprego. Ele foi categórico:

“Se eu souber, ao examinar avaliações da empresa ou o processo de contratação, que terei que usar entrevistas com IA, simplesmente não perderei meu tempo, porque sinto que é mais um exercício de redução de custos do que qualquer outra coisa”.

Cobb ainda questiona:

“Isso me faz sentir que eles não valorizam meu aprendizado e desenvolvimento. Me faz questionar a cultura da empresa — eles vão cortar empregos no futuro porque aprenderam que robôs já podem recrutar pessoas? O que mais eles terceirizarão?”

A Perspectiva das Empresas

Do outro lado da equação, os departamentos de RH, frequentemente sobrecarregados, defendem que os entrevistadores de IA são essenciais para processar o grande volume de candidatos.

Priya Rathod, editora de tendências de local de trabalho da Indeed, explicou:

“Eles estão se tornando mais comuns na triagem inicial porque podem agilizar contratações de grande volume. Você os vê em toda parte. Mas para contratações de grande volume como atendimento ao cliente, varejo ou funções de tecnologia de nível inicial, estamos vendo isso cada vez mais… Está realizando aquele trabalho de primeira etapa que muitos empregadores precisam para serem mais eficientes e economizarem tempo.”

Adam Jackson, CEO e fundador da Braintrust, empresa que desenvolve entrevistadores de IA, defende a tecnologia:

“A verdade é que, se você quer um emprego, vai passar por isso. Se uma grande parte da comunidade de candidatos estivesse rejeitando isso completamente, nossos clientes não achariam a ferramenta útil… Isso estaria cronicamente com desempenho abaixo do esperado para nossos clientes. E não estamos vendo isso — estamos vendo o oposto.”

Limitações Reconhecidas da Tecnologia

Contudo, mesmo Jackson reconhece as limitações da tecnologia:

“Ela faz 100 entrevistas e vai devolver as 10 melhores ao gerente de contratação, e então o humano assume. A IA é boa em avaliação objetiva de habilidades — eu diria que até melhor que humanos. Mas quando se trata de adequação cultural, eu nem tentaria fazer a IA realizar isso”.

A Tendência Crescente de Regulamentação da IA

Enquanto o debate sobre entrevistadores de IA continua, outros setores já estão estabelecendo limites claros para o uso de IA. Illinois recentemente se juntou a Nevada e Utah ao proibir o uso de inteligência artificial em terapia de saúde mental, restringindo chatbots de IA para suporte emocional e aconselhamento sem a supervisão de profissionais licenciados.

Essa tendência de regulamentação sugere que, embora a IA continue avançando em diversos setores, haverá cada vez mais escrutínio sobre seu uso em áreas sensíveis que tradicionalmente dependem de interações humanas significativas.

O Futuro das Entrevistas de Emprego

O confronto entre eficiência e humanização no processo de recrutamento parece longe de terminar. Para os candidatos, a mensagem é clara: uma empresa que terceiriza completamente o contato humano inicial pode estar sinalizando seus valores organizacionais. Para as empresas, o desafio será encontrar um equilíbrio que aproveite a eficiência da tecnologia sem alienar talentos valiosos que buscam ambientes de trabalho mais humanizados.

À medida que a tecnologia avança, a questão permanece: até que ponto estamos dispostos a substituir interações humanas fundamentais por eficiência algorítmica? A resposta pode definir não apenas o futuro do recrutamento, mas também a natureza do próprio trabalho na era digital.


Referencias: DemandSage. “AI Recruitment Statistics 2025 (Worldwide Data & Insights)”. Junho de 2025